terça-feira, 29 de julho de 2008

Divagações Laborais



Trabalho num café... É estranho... Lido com dezenas pessoas todos os dias. Isso é anti-natural em mim. Nunca fui boa em interacção humana. E mesmo assim, la estou, todos os dias, com o mesmo sorriso e olhar inocente. É quase cruel o modo como aprendemos a fingir cada expressão de maneira quase mecanica...
Quantas são as pessoas com que vocês se se cruzam dia após dia, após dia sem se aperceberem da sua existência? Eu sou uma dessas pessoas. Vocês podem não saber que eu estou la, limitando-se a lançarem-me um sorriso forçado ou um "obrigado" cordial. Mas eu sou uma pessoa como vocês e como tal a curiosidade faz parte do meu ser e como tal eu observo-vos... Ajuda-me a passar o tempo...
Caricato o modo como podemos saber tanto de uma pessoa sem só através deste processo.

Todas as noites aquele homem me pede um café e um Gran's com quatro pedras de gelo. Tem um ar arrogante, mas gosta de meter conversa. Vem sempre com o mesmo amigo. Bebem sempre o mesmo. Mas ele é diferente. É divorciado e tem um filho que traz uma vez por semana. O puto come sempre o mesmo gelado... O pai é um Dom Ruan... Mas é facil perceber que está um tanto traumatizado com as mulheres... Gosta de futebol. É charmoso. Mas embora o seu sorriso pareça doce, os seus olhos fitam-me com despreso. Odeia mulheres. Só quer come-las e partir para a próxima.
Gosto dele. Nunca desabafou comigo. Aprendi tudo através do olhar...

Mas há aqueles que gostam de falar... Ao longo da minha vida uma parte de mim sempre se perguntou porquê, mas algo em mim parece inspirar confiança nos outros. Gostam de falar comigo. Eu limito-me a ouvir. Aprendi a não me preocupar de mais.

Uma senhora em ver-me todos os dias. As outras acham-na uma xata porque nunca se cala, eu axo-a fascinante. Se ao menos elas perdessem dois minutos perceberiam que tem histórias fantasticas para contar. Faz-me pensar... Será que um dia também vou ter uma vida rica, para poder partilha-la com alguém? Espero sinceramente que sim.

Podia ficar nisto a noite toda... Tantas histórias... Tantas vidas... É irínico... Ignoram-me, tratam-me como se fosse uma maquina. Não sabem nem nunca saberão nada de mem. E eu aprendo tanto sobre eles... É ridiculo...

Experimentem começar a olhar a volta. Nunca se sabe quem vos está a ver...